quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O SEGREDO

Não li o livro, não assiste o filme nem ao documentário, mas informei-me com meu sobrinho de 11 anos, pois sabia que ele havia assistido o dvd na escola.
Ele disse-me que “O Segredo” é mentalizar, pensar positivo, que as coisas acontecem. Pedi-lhe um exemplo:
- Ah tia, tipo, se eu quiser ter uma bicicleta nova, basta mentalizar e acreditar que eu consigo. Fascinada respondi:
- Então este é “O Segredo”.
Não tive coragem de desapontá-lo, mas foi exatamente assim que fiquei.
Esperava que o segredo trouxesse lições de vida e comportamento, mas pelo que pude constatar, no relato de uma criança; que considero o melhor mestre; este segredo trata-se de uma visão capitalista com cenas de egoísmo.
Adoraria ouvir de meu sobrinho exemplos como:
- Se eu pensar positivo, mentalizar e desejar, meu pai não vai brigar comigo, e minha mãe hoje estará mais calma do que nunca, ou ainda, se eu ficar doente penso positivo e melhoro rapidinho, ou então, mentalizo e pronto tenho um monte de amiguinhos. Entre tantos outros exemplos de auto - ajuda, que o fariam melhor como pessoa, mas infelizmente este tipo de segredo ainda não vende, então não pode ser considerado um “best seller”. Na minha condição de tia, aos poucos contarei esta história a meu amado sobrinho, ao menos, posso dizer que o título e a pesquisa deram-me a oportunidade de aprender e ensinar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

VIRTUAL

Entrei apressado e com muita fome no restaurante.
Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga,uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
-Tio, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você. Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.
- Tio, pede para colocar margarina e queijo também? Percebo que o menino tinha ficado ali.
- OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá? Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.
- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele. Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:
- Tio, o que está fazendo?
- Estou lendo uns e-mails.
- O que são e-mails?
- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.
Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse: - É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Tio, você tem Internet?
- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet, tio?
- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual, tio?
Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Legal isso. Gostei!
- Mocinho, você entendeu o que é virtual?
- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.
- Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isto não é virtual, tio?
Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino terminasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!(Autor Desconhecido).